Nova mostra de Marinela Goulart no Ponto D’Arte, na Lagoa da Conceição.
“As esculturas de “Transpare(seres)” são, para mim, como pinturas no ar. Trata-se aqui, essencialmente, de peças em chapas de inox ou em telas de metal, recortadas e modeladas, que sugerem formas em movimento. Seus reflexos, como caleidoscópios, subvertem a própria imagem do entorno, destacando luzes e sombras, recortando espaços que não existiam, criando vazios.
Nessa ocupação do espaço, o dentro e o fora por vezes se misturam, outras vezes mantém entre si uma continuidade de superfície, fazendo da peça uma consistência que pode ser definida como a do contorno de um vazio. É nessa lógica que decidi criar esculturas grandes e pequenas, para interiores e exteriores, para dentro e para fora, com dimensões que variam de trinta centímetros a três metros.
Trabalhar a escultura é isso: extrair vida e movimento da concretude da matéria, mas também da concretude barulhenta do vazio; é trabalhar ora sobre a leveza, o amor, as alegrias e ora sobre a dor, o caos, a dúvida e a violência das paixões humanas. Se entre você e eu existe um abismo, construo esse abismo. Quando estamos perdidos, faço um labirinto. Se somos cúmplices, desenho no ar a linha imaginária, ou real, que nos une. Abismos, labirintos e enlaces compõem esse contorno do espaço que nos une e nos separa. Na medida em que se olha, conforme a luz e a posição do olhar, do mesmo objeto podem surgir novas formas, possibilitando uma espécie de fluidez ao que parecia ser estático. Figuras humanas são retratadas, colocadas em perspectiva, esculpidas com materiais que tanto podem revelar aquilo que erige, que edifica, quanto o que se desmancha e jaz feito ruína. Nessa concepção, nesse horizonte, em que situo o meu trabalho, o olhar é fugidio, engana, produz equívocos, captura,cria surpresas”.